Com a digitalização acelerada dos processos contábeis, fiscais e operacionais, empresas de todos os portes têm se tornado mais vulneráveis a fraudes internas, inconsistências financeiras e falhas na prestação de contas. De acordo com especialistas da área de gestão e compliance, a falta de integração entre setores como vendas, estoque, contabilidade e folha de pagamento cria brechas silenciosas, que muitas vezes passam despercebidas por longos períodos — até gerarem prejuízos significativos.

A prevenção, neste cenário, deixa de ser uma medida de cautela e passa a ser uma estratégia de sobrevivência. E a boa notícia é que existem soluções viáveis e adaptáveis até mesmo para pequenas e médias empresas.

Criando soluções na prática

Uma das vozes mais ativas neste debate é a especialista em contabilidade e planejamento tributário Talita dos Santos Bendilatti, que atua desde 2015 orientando empresários e imigrantes na estruturação de negócios com foco em segurança financeira e conformidade fiscal.

Talita dos Santos Bendilatti.

Com mais de uma década de experiência na área, Talita percebeu, na prática, os efeitos da falta de controle interno em empresas familiares e estruturas em crescimento. “O problema não está apenas nas grandes fraudes, mas nas pequenas falhas repetidas que, somadas, geram perdas que poderiam ser evitadas com um sistema simples de cruzamento de dados”, comenta.

O nascimento de um método próprio

Foi justamente dessa vivência direta com empresários e gestores que surgiu o embrião de um modelo original criado por Talita: o Sistema Interligado de Monitoramento Antifraude (SIMA).

Concebido ainda em 2022, e em fase de aplicação e testes em 2023, o SIMA é uma metodologia que permite às empresas organizar e cruzar informações internas de forma sistemática — unindo dados de diferentes setores como vendas, folha, impostos, estoques e desempenho de colaboradores.

“A ideia nasceu da necessidade. A gente viu que, mesmo com sistemas bons, as empresas falhavam porque cada setor funcionava isolado. O SIMA é como se fosse um cérebro que integra tudo e acende alertas quando algo foge do padrão”, explica Talita.

Entrevista rápida com Talita Bendilatti

Entrevistador: Qual foi o primeiro sinal de que faltava algo nas rotinas de controle das empresas?

Talita Bendilatti: Percebi que muitos dos erros não estavam no sistema, mas no fluxo de informação entre setores. Um estoque não batia com o faturamento, um pagamento saía duplicado, e ninguém percebia porque cada departamento olhava só para sua parte. Faltava integração e visão global.

Entrevistador: E o SIMA surgiu como resposta a isso?

Talita: Sim, ele começou como um conjunto de boas práticas que eu fui implementando com clientes e, com o tempo, percebi que estava criando um modelo. Hoje ele já está estruturado como metodologia, e nossa meta é aplicar em mais empresas nos próximos meses.

Entrevistador: O método é viável para pequenas empresas?

Talita: Totalmente. O diferencial do SIMA é justamente ser adaptável. Ele usa ferramentas simples, como planilhas organizadas ou sistemas de gestão acessíveis, mas com um fluxo lógico que permite identificar erros antes que eles causem prejuízos maiores.

A lógica do “prevenir sempre”

Para os especialistas, a lógica é simples: prevenir sai mais barato — e mais seguro — do que remediar. Um controle bem estruturado evita não apenas perdas financeiras, mas problemas com órgãos reguladores e queda de reputação.

Modelos como o SIMA mostram que, com o conhecimento certo, é possível aplicar inteligência de gestão até mesmo em negócios que estão apenas começando. E no mundo cada vez mais dinâmico e automatizado, o diferencial competitivo pode estar justamente na capacidade de enxergar onde outros ainda não olham.